Os comentários da Rússia ocorrem no momento em que o Hamas tenta localizar 8 cidadãos russo-israelenses entre os reféns que fez durante o ataque a Israel.
O bombardeamento de Gaza por Israel vai contra o direito internacional e corre o risco de criar uma catástrofe que poderá durar décadas, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov.
Lavrov fez os comentários, alguns dos mais críticos de Moscou a Israel, em uma entrevista à agência de notícias estatal bielorrussa Belta, que os divulgou no sábado.
“Embora condenemos o terrorismo, discordamos categoricamente que é possível responder ao terrorismo violando as normas do direito humanitário internacional, incluindo o uso indiscriminado da força contra alvos onde se sabe a presença de civis, incluindo reféns que foram feitos”, disse ele.
Era impossível, acrescentou, destruir o Hamas – como Israel se comprometeu a fazer – sem destruir Gaza juntamente com a maior parte da sua população civil.
“Se Gaza for destruída e dois milhões de habitantes forem expulsos, como propõem alguns políticos em Israel e no estrangeiro, isso criará uma catástrofe durante muitas décadas, se não séculos”, alertou Lavrov.
“É necessário parar e anunciar programas humanitários para salvar a população bloqueada.”
À medida que Israel expande a sua operação militar em Gaza, a comunidade internacional apelou a uma trégua humanitária para levar ajuda aos civis.
Enquanto isso, o Hamas tentava no sábado localizar oito cidadãos com dupla cidadania russo-israelense que estão entre as dezenas de reféns que fez durante o ataque a Israel há três semanas, relataram agências de notícias russas, citando um membro do Hamas.
Moscovo deu ao Hamas uma lista de nomes e solicitou a sua libertação. “Estamos muito atentos a esta lista e vamos lidar com ela com cuidado porque olhamos para a Rússia como nosso amigo mais próximo”, disse a agência de notícias russa RIA, citando o representante sênior do Hamas, Moussa Abu Marzook.
“Agora, estamos procurando essas pessoas. É difícil, mas estamos procurando. E assim que os encontrarmos, iremos libertá-los. Apesar das dificuldades decorrentes da situação atual.”
Israel disse acreditar que 229 pessoas foram feitas reféns pelo Hamas durante o ataque de 7 de outubro, no qual mais de 1.400 pessoas também foram mortas. Desde então, Israel bombardeou incansavelmente Gaza, matando mais de 7.300 palestinos na faixa.
A Rússia acredita que é necessário manter contactos com todas as partes no conflito israelo-palestiniano, disse o Kremlin na sexta-feira, defendendo a sua decisão de convidar uma delegação do Hamas que incluía Marzouk a Moscovo – uma decisão que provocou a ira israelita.
Israel instou a Rússia na quinta-feira a expulsar os membros visitantes do Hamas, chamando o seu convite a Moscovo de “deplorável”.
Lavrov disse que a Rússia também mantém contato próximo com Israel.
“Continuamos em pleno contacto com Israel e o nosso embaixador mantém contacto regular com eles”, disse Lavrov.
“Estamos a enviar sinais sobre a necessidade de procurar uma solução pacífica e de não prosseguir com esta anunciada estratégia de ‘terra arrasada’.”
Kiev e o Ocidente acusaram a própria Rússia de bombardear civis em toda a Ucrânia. Moscou diz que não visa deliberadamente civis e visa apenas alvos militares.